terça-feira, novembro 02, 2010

Treinadores Angolano de Futebol tenhem valor

Miller Gomes defende apoio aos técnicos nacionais

Paulo Caculo - 17 de Maio, 2010 

Ex-seleccionador feminino defende maior oportunidade para os nacionais

O técnico promissor, Miller Gomes, afirmou ontem, em entrevista ao nosso jornal, ser a altura dos dirigentes angolanos apostarem muito mais no quadro nacional e afastarem a "ideia errada" de que a solução para o futuro do futebol passa necessariamente pela importação de treinadores.

Falando a margem da conclusão de mais uma acção formativa no exterior do país, o jovem treinador, 39 anos, mostrou-se preocupado com a fraca representatividade de quadros nacionais no principal campeonato de futebol do país, o Girabola, numa altura em que cada vez mais profissionais apostam na formação.

"Penso que hoje por hoje já não se justifica a fraca aposta dos dirigentes angolanos nos quadros nacionais. Temos hoje no país treinadores que investiram forte na sua formação e podemos citar os casos de José Kilamba, Romeu Filêmon, Mário Calado, Agostinho Tramagal, Zeca Amaral e David Dias, que estão a desenvolver trabalhos de qualidade nos clubes que representam", disse Miller Gomes, que até bem pouco tempo esteve á frente da coordenação dos escalões de formação do Recreativo do Libolo.

Para o antigo seleccionador feminino, a classe de técnicos nacionais deve ser mais valorizada, sobretudo pelo facto de, segundo ele, haver muitos profissionais capacitados no país."Desejo ver um número maior de treinadores valorizados.

A nossa classe tem de aumentar, mas para aumentar tem de haver investimento pessoal e passa, sobretudo, da valorização dos dirigentes angolanos a capacitação dos quadros nacionais", defendeu, lamentando em seguida o facto de não haver vontade dos clubes apostarem na formação dos seus quadros.

"Pelo conhecimento que tenho, o único clube que se mostra preocupado com a formação dos seus quadros técnicos é o Progresso do Sambizanga, que tem dois treinadores a formar-se em Portugal, nomeadamente o santinho e o Janguelito. Os outros estão com receio de investir".

Mais FormadosMiller Gomes não esconde, no entanto, a satisfação pelo facto de estar a constatar a existência de um número maior de técnicos interessados em apostar no investimento das carreiras, recorrendo a constante formação. Refere-se a Janguelito, Ernesto Castanheira e Kito Ribeiro, três colegas que concluem o curso de Nível I, em Lisboa, como exemplos da forte aposta dos treinadores angolanos com o futuro.

"Tenho a consciência de que são cursos de valores elevados, mas que valem a pena, porque Angola vai ganhar com isso, porque estarão a vir três técnicos formados e que é momento de o país aproveitar os quadros. As direcções dos clubes não têm de ter receio, porque hoje o técnico nacional faz melhor ou igual que o estrangeiro – ninguém sabe – temos de dar oportunidade a todos, para que possamos desenvolver um trabalho".

O treinador não consegue entender igualmente como o Girabola com 16 equipas, tem um número elevado de técnicos estrangeiro, mas "apenas um ganha títulos", enquanto "os outros não passam daí, não trazem mais-valia" – acrescenta ele – nem partilham o conhecimento que têm com a classe.

"Acho que é algo que a federação, o ministério ou alguma instituição já devia começar a pensar nisso. Nos outros países é assim que acontece: o treinador estrangeiro vai a este país, mas tem de dar o seu subsídio, tem que partilhar o seu conhecimento, justificar a sua contratação.

Em Angola acontece o contrário dos outros países: os técnicos chegam aqui, com currículo ou sem ele, trabalham, ganham o seu dinheiro e depois vão embora, sem partilhar conhecimento ou deixar qualquer informação e nós continuamos a viver este problema. É altura, na minha óptica, de se dar mais oportunidade aos treinadores nacionais".

Treinador sempre 
disposto a aprender


Investir na formação da carreira continuará a ser um desafio pessoal de Miller Gomes. O treinador a ambição de chegar o mais longe possível em termos de absorção de conhecimentos, por encarar o treinamento desportivo como a sua paixão, a profissão do coração.

"Abdiquei de tudo que fazia para ir fazer mais uma formação no exterior do país. Foram três meses de algum investimento pessoal, naturalmente em prol do futebol.

Fiz o curso de Nível II, conhecido por UEFA B, acho que foi uma experiência agradável, pela diversidade da matéria abordada, pelos prelector que tivemos nesta formação e, também, pela enorme experiência que pude absorver do estágio que realizei enquanto fazia o curso", congratulou-se o jovem treinador, destacando o facto de ter "bebido" muito da experiência de notáveis prelectores da FIFA e da UEFA.

"É um desafio a título pessoal, um investimento que faço à minha pessoa e à minha carreira, mas naturalmente que tudo isso vai desembocar naquilo que gosto de fazer, que é treinar", acrescentou ele, sublinhando a necessidade de todo o treinador que se preze apostar na formação pessoal.

"Hoje o futebol é uma dinâmica muito grande, uma ciência em constantes desenvolvimentos e constantes descobrimentos e ,naturalmente, estes momentos nos trazem mais-valias, nos fazem conhecer outras realidades e quando podemos transportar estas experiências à nossa realidade, adaptando-as aquilo que é o nosso contexto, podemos, se as coisas forem bem delineadas, tirar grandes dividendos a partir destas formações que vamos fazendo fora do país".                         

"Estou aberto 
a grandes desafios" 


Miller Gomes confessa estar ansioso por voltar rapidamente ao activo, sobretudo depois de ter concluído com êxito mais uma acção formativa da UEFA no exterior do país. O técnico angolano que já realizou estágios com José Mourinho e Alex Ferguson, no Chelsea e Manchester United, garante estar preparado para assumir grandes desafios.

"Agora que regressei, penso que estou em condições plenas para qualquer compromisso. Não vou aqui dizer quais, mas é bem verdade que tenho recebido alguns convites, mas estou a analisar com ponderação e tão logo possa definir esta situação, voltar ao activo. É a minha profissão, tenho de trabalhar, pois temos família, mas também não quero dar um passo em falso. Estou a analisar com calma, para poder definir com certeza o caminho a seguir" desabafou o treinador.

O ex-seleccionador feminino acredita, no entanto, que uma boa proposta pode surgir a qualquer altura, mas enquanto não chega, espera ter forças para continuar a aperfeiçoar os seus conhecimentos, gozando de outras experiências.

"Quero abraçar experiências novas, conhecer outras realidades, continuar a aprender, porque todos os dias vamos desenvolver e ver coisas novas, porque o futebol que era há vinte anos já não é o mesmo de hoje. O meu limite é este: todos os dias acompanhar a evolução do saber, sobretudo naquelas disciplinas que estão identificadas como a chave do futebol. Este é o meu grande desafio".

Refira-se que antes do Recreativo do Libolo, onde esteve a coordenar os escalões de formação, Miller Gomes teve passagens pelo Benfica de Luanda, selecção feminina, Petro, 1º de Agosto e Petro do Huambo.  

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