MEMÓRIA
José Águas. O melhor dactilógrafo da Europa
por Rui Tovar, Publicado em 09 de Setembro de 2010
Há 60 anos o Benfica fez uma digressão em África e aterrou em Lisboa com um reforço na bagagem, que seria o capitão das duas Taças dos Campeões.
Quantos jogadores venceram a Taça dos Campeões? Eh pá, isso agora... Quantos jogadores venceram a Taça dos Campeões e se sagraram melhores marcadores nessa época de glória? Eh lá, deixa-me cá ver. Nove: Di Stéfano, Puskas, José Águas, Altafini, Müller, Van Basten, Kaká e Cristiano Ronaldo. Quantos jogadores venceram a Taça dos Campeões, se sagraram melhores marcadores e ainda levantaram a taça na qualidade de capitães? Esta é fácil. Só um: José Águas, em 1961. E é dele que vamos falar, porque faz hoje, dia 9 de Setembro, 60 anos que chegou a Portugal, via Angola.
Nasce em Luanda e cresce no Lobito, onde o pai, Raul, trabalha. Aos 15 anos, José entra como dactilógrafo na Robert Hudson, empresa concessionária da Ford, e com facilidade lança-se na equipa de futebol da firma. Com instintos goleadores.
Em 1950, José Águas, com 19 anos, e já um benfiquista ferrenho, por influência do pai, vive um dia de glória aquando da vitória do Benfica na Taça Latina. No dia seguinte, um jornal local publica o poster dessa equipa e José Águas cola-o na parede do quarto. No mês seguinte, quando o referido poster já estava amarelo de apanhar tanto sol, o Benfica chega a Angola para uma digressão de início de época. Dos 15 jogos previstos, o oitavo é o mais importante. Não pelo resultado (derrota por 3-1), mas pelos dois golos de José Águas, avançado-centro da selecção de Lobito, que salta mais alto que qualquer defesa do Benfica. Ted Smith, treinador inglês dos encarnados, pede-lhe então que passe pelo seu hotel para falarem.
OLHÒ FCP No dia seguinte, o FC Porto, por telefone, convida José Águas para umas férias na Invicta e uns treinos na Constituição (o estádio dos portistas), ao que este responde, timidamente: "Amanhã respondo!" O amanhã nunca mais chega. Para o FC Porto, pelo menos. Para o Benfica, o amanhã significa a descoberta de mais um fenómeno da África colonial. Ponta-de-lança elegante e clássico, fazia do jogo de cabeça a sua grande arma. E larga tudo para vestir a camisola do Benfica no resto da digressão. Nos três jogos seguintes, seis golos, incluindo um hat-trick na estreia, com a selecção Huíla-Lubango
A 9 de Setembro de 1950, o Benfica aterra em Lisboa, com um reforço na bagagem. E o resto é história. Que vale a pena contar. José Águas demora duas horas a adaptar-se ao nosso futebol. No primeiro jogo, com o Atlético, na Tapadinha (2-2), para a segunda jornada do campeonato nacional, Águas, nada habituado a um campo relvado e a jogar com pitons, quase não toca na bola e é posto em causa pela imprensa desportiva.
Antes que isso se transforme em críticas, Águas desfaz equívocos e marca quatro golos (o primeiro aos 30 minutos), na jornada seguinte, num estonteante 8-2 ao Braga. Nas 13 épocas seguintes, José Águas vive momentos inesquecíveis, como a conquista das duas Taças dos Campeões, em 1961 e 1962 (na primeira edição é mesmo o melhor marcador da prova, com 11 golos em nove jogos), ambas como capitão, e um golo em cada final, ao Barcelona e ao Real Madrid, respectivamente. Sem esquecer que foi o primeiro português votado para a "France Football", em 1961 (certamente votos do jornalista português, porque a sequência José Águas, Germano, José Augusto, Costa Pereira e Eusébio é no mínimo suspeita). Além das sete Taças de Portugal. E de cinco campeonatos nacionais e cinco títulos de melhor marcador da 1.a divisão, que contribui para que seja dos poucos jogadores do mundo a terminar a carreira com mais golos (290) que jogos (282).
Em 1962, a saída do técnico húngaro Bela Guttmann precipita o fim de José Águas. Com o chileno Fernando Riera a apostar em José Torres, é relegado para o banco. Emigra então para a Áustria e joga no Austria Viena, contabilizando dois golos (em sete jogos), longe dos números arrasadores no Benfica: 379 golos (em 384 jogos), no segundo melhor registo de sempre da história encarnada, só atrás de Eusébio (473), outro fenómeno da África colonial. Mas isso é outra história. Que fica para outro dia. Hoje é o de José Águas.
Nasce em Luanda e cresce no Lobito, onde o pai, Raul, trabalha. Aos 15 anos, José entra como dactilógrafo na Robert Hudson, empresa concessionária da Ford, e com facilidade lança-se na equipa de futebol da firma. Com instintos goleadores.
Em 1950, José Águas, com 19 anos, e já um benfiquista ferrenho, por influência do pai, vive um dia de glória aquando da vitória do Benfica na Taça Latina. No dia seguinte, um jornal local publica o poster dessa equipa e José Águas cola-o na parede do quarto. No mês seguinte, quando o referido poster já estava amarelo de apanhar tanto sol, o Benfica chega a Angola para uma digressão de início de época. Dos 15 jogos previstos, o oitavo é o mais importante. Não pelo resultado (derrota por 3-1), mas pelos dois golos de José Águas, avançado-centro da selecção de Lobito, que salta mais alto que qualquer defesa do Benfica. Ted Smith, treinador inglês dos encarnados, pede-lhe então que passe pelo seu hotel para falarem.
OLHÒ FCP No dia seguinte, o FC Porto, por telefone, convida José Águas para umas férias na Invicta e uns treinos na Constituição (o estádio dos portistas), ao que este responde, timidamente: "Amanhã respondo!" O amanhã nunca mais chega. Para o FC Porto, pelo menos. Para o Benfica, o amanhã significa a descoberta de mais um fenómeno da África colonial. Ponta-de-lança elegante e clássico, fazia do jogo de cabeça a sua grande arma. E larga tudo para vestir a camisola do Benfica no resto da digressão. Nos três jogos seguintes, seis golos, incluindo um hat-trick na estreia, com a selecção Huíla-Lubango
A 9 de Setembro de 1950, o Benfica aterra em Lisboa, com um reforço na bagagem. E o resto é história. Que vale a pena contar. José Águas demora duas horas a adaptar-se ao nosso futebol. No primeiro jogo, com o Atlético, na Tapadinha (2-2), para a segunda jornada do campeonato nacional, Águas, nada habituado a um campo relvado e a jogar com pitons, quase não toca na bola e é posto em causa pela imprensa desportiva.
Antes que isso se transforme em críticas, Águas desfaz equívocos e marca quatro golos (o primeiro aos 30 minutos), na jornada seguinte, num estonteante 8-2 ao Braga. Nas 13 épocas seguintes, José Águas vive momentos inesquecíveis, como a conquista das duas Taças dos Campeões, em 1961 e 1962 (na primeira edição é mesmo o melhor marcador da prova, com 11 golos em nove jogos), ambas como capitão, e um golo em cada final, ao Barcelona e ao Real Madrid, respectivamente. Sem esquecer que foi o primeiro português votado para a "France Football", em 1961 (certamente votos do jornalista português, porque a sequência José Águas, Germano, José Augusto, Costa Pereira e Eusébio é no mínimo suspeita). Além das sete Taças de Portugal. E de cinco campeonatos nacionais e cinco títulos de melhor marcador da 1.a divisão, que contribui para que seja dos poucos jogadores do mundo a terminar a carreira com mais golos (290) que jogos (282).
Em 1962, a saída do técnico húngaro Bela Guttmann precipita o fim de José Águas. Com o chileno Fernando Riera a apostar em José Torres, é relegado para o banco. Emigra então para a Áustria e joga no Austria Viena, contabilizando dois golos (em sete jogos), longe dos números arrasadores no Benfica: 379 golos (em 384 jogos), no segundo melhor registo de sempre da história encarnada, só atrás de Eusébio (473), outro fenómeno da África colonial. Mas isso é outra história. Que fica para outro dia. Hoje é o de José Águas.
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