segunda-feira, novembro 08, 2010

Recordar ídolos Após a independência

Antigo craque Vieira Dias nasceu na baliza do Maxinde

Ferraz Neto 
Vieira Dias
Vieira Dias é uma figura mediática do futebol angolano. Jogou futebol nos anos 70, 80 e 90, ao lado de nomes como Jesus, Avelino, Antoninho, Quim Sebas, Saavedra, Santo António, Makuéria, Chico Afonso, Pedro Ferro, Wilson, Napoleão, Tandu, Ndunguidi, Barros, Bolingó, Fusso ou Vidigal Capelo. 
José Vieira Dias Paulino do Carmo ou simplesmente Vieira Dias, nasceu a 19 de Abril de 1959, na Damba, província do Uíje. Por causa da Grande Insurreição, em 15 de Março de 1961, a família foi forçada a abandonar a Damba e fixar residência em Luanda. 
 “Muita gente pensa que sou natural de Luanda”. Não é. Na capital do país, os pais foram residir para a Rua C7, Bairro das Seis, no município do Rangel. 
De signo carneiro, VD como é carinhosamente tratado pelos amantes do futebol, começou cedo a dar provas de que longe no deesporto. Os trumunus entre ruas serviam para limar as arestas e torná-lo num autêntico craque do futebol. 
  
Guardião do Maxinde

Na década de 70, decidiu ingressar num clube organizado e legalizado, que o  tirasse do anonimato. Foi para o Maxinde Futebol Clube. Depois de vários testes foi escolhido para guarda-redes. 
Timidamente foi aprendendo a vencer os grandes obstáculos da baliza ao lado de jogadores como Manuel, Gamito, Mendinho, Jaburu, Male e outros.   
Durante semanas alimentou o sonho de ser um guarda-redes de renome como Yashin, o Aranha Negra, (1929-1990), considerado por muitos como o melhor guardião que já existiu na história do futebol ou o Cerqueira, do Atlético Sport Aviação (ASA). Mas faltou-lhe a inscrição. 
Como mandam as regras, deu o Bilhete de Identidade ao treinador Sousa Neto, para o clube tratar da sua inscrição. As expectativas foram frustradas, por causa das transformações políticas da Revolução dos Cravos, em 1974. Na confusão da época o Bilhete de Identidade desapareceu. Ficou impedido de se estrear no clube e ficou sem o BI.  
Não desanimou. Depois das aulas, jogava futebol nas equipas que representavam as ruas C7 de Baixo e C7 de Cima. Em companhia de Julião, Henriques, Cara, Jaburu, Vieira Dias tornou-se um guarda-redes emblemático. Mas experimentou outras posições em campo. 
Em 1974, aderiu aos Pioneiros do MPLA. Mais tarde foi para o Centro de Instrução Revolucionária (CIR) Hoji ya Henda, localizado nas imediações da cidade do Caxito. De regressou, integrou nas FAPLA e foi colocado no Quartel-General e posteriormente no Departamento de Organização e Mobilização (DOM). 
  
Formação em Cuba 

Em 1976, fruto dos acordos na área de formação entre Angola e Cuba, Vieira Dias foi contemplado com uma bolsa para a escola Inter-Armas, denominada António Marceo. Não abdicou do futebol. Tornou-se num dos grandes impulsionadores do campeonato entre escolas denominado Inter-Cem. 
Ao lado de Sá Miranda e como apoio moral do actual chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas, general Francisco Pereira Furtado, fez defesas espectaculares que arrancaram aplausos e admiração das formações rivais. 
  
1º de Agosto e selecção 

De regresso a Angola, foi colocado na escola Nicolau Gomes Spencer, na província do Huambo. De férias em Luanda, cruzou-se com Julião, ex-colega no Maxinde. A conversa serviu para conhecer o Rio Seco, estado-maior do 1º de Agosto.   
No Rio Seco  as expectativas baixaram, pois estava na presença de nomes como Luvambo, Garcia, Ndunguidi, Julião, Barros, Sanção, Mateus César, Mascarenhas, Napoleão, Ângelo, Dongala, Agostinho ou Manico. 
“Não tinha hipóteses. Com aquelas feras todas ali”, salienta. A constituição física foi a salvação. O clube queria alguém com físico, no ataque da equipa. Depois de vários testes Vieira Dias não desiludiu. Mesmo assim foi colocado nas reservas. 
Entre 1979 e 1980, vestiu a camisola nove da equipa B do 1º de Agosto. Nesse ano, sagra-se campeão nacional da primeira edição do Girabola. No auge da sua afirmação, foi dispensado. Foi para o Progresso do Sambizanga, pela mão do professor Laurindo. 
Estava feita a sua afirmação. Foi o melhor marcador do clube, ao lado de Santinho, Santo António, Dê, Manuel e outros. Na época seguinte transfere-se para o Mambroa do Huambo, onde ficou apenas uma temporada. Foi nessa fase que Vieira Dias, integrou a selecção nacional em honras. Passou a ser intertnacional.
Fez parte da selecção que se estreou nos II Jogos da África Central, em 1981. Ficou famoso pelo sua capacidade no jogo aéreo e marcava grandes golos de cabeça.  

Vieira Dias responde

Qual foi o jogo que mais o marcou na selecção

Foi um jogo diante da Nigéria, em 1986, tudo porque aquele país foi sempre uma potência no futebol africano. Empatamos em Angola por 2-2. Já na Nigéria perdemos por 1-0. O que falou mais alto foi a experiência nigeriana e vários factores. Jogámos em pé de igualdade. Não houve diferença em campo. 

Quem são os seus pais

Sou filho Raul Frede Paulino do Carmo e de Sebastianina de Sousa Van-Dúnem. O meu pai teve dois casamentos. Uma das mulheres teve sete filhos e da minha mãe somos cinco irmãos. A minha mãe perguntava como é que um filho formado se dedica ao futebol e abandona o Huambo. Com o pouco que ganhei no futebol, ajudei a minha família, uma vez que perdi o meu pai em 1974. A minha mãe era costureira. 
  
É casado

Sou casado desde 5 de Junho de 1983. Foi depois de um jogo. Saímos do campo e minutos depois estávamos na festa. Foi uma maravilha. Hoje temos cinco filhos.

Aconteceu comigo

Vieira Dias é uma referência no futebol angolano e quiçá em África. Aos 50 anos, diz guardar vários momentos marcantes na sua carreira, destacando os golos de cabeça e o impulso nas lides futebolísticas do coronel Nicola, ele também um dos maiores futebolistas angolanos de sempre. “Durante o período que entrei para o 1º de Agosto foi ele quem depositou confiança em mim. Fui aquilo que ele queria que eu fosse”. 


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