Futebol
Em 1946, no jornal O LOBITO, nº1126 de 22 de Maio, podia ler-se esta notícia:
NO LOBITO
No melhor desafio do campeonato,
O LOBITO SPORTS CLUBE,
bateu o S.C. Portugal por 3-2.
As surpresas vão surgindo e o campeonato vai despertando um interesse cada vez maior. Pelo que vai decorrendo e pelo que se anuncia, prevê-se uma competição renhida tanto mais que todos os concorrentes se encontram pouco mais ou menos equilibrados. Vão aparecendo, também as dificuldades, à frente das quais avulta o ingrato problema dos árbitros que, não obstante todas as decisões promulgadas, continua sem solução. É este o «caso» que atinge maior acuidade, certo de que da sua solução depende a rgularidade do campeonato e de que não se pode estar à mercê de soluções de momento, de «caprichos» e «deserções». Porfiados têm sido os esforços da A.F.B. para resolver o assunto e é necessário que o público os reconheça, não sendo por vezes tão impiedoso e tão injusto nas suas apreciações. Há um péssimo hábito de fazer da A.F.B., o «bode expiatório» de todos os actos e atitudes condenáveis. Basta um ligeiro exame de consciência, mesmo quando os espíritos estão mais exaltados, para se reconhecer a flagrância do êrro e a ilibação de culpas. Não queremos dizer, com isto, que não estejamos sugeitos a decisões menos acertadas; mas do que não resta a menor dúvida é que os «defeitos» só se «descobrem» quando se «perde» e não quando se ganha .... | Um jôgo enérgico e movimentado O campo do Lusitano registou uma grande enchente e a tarde foi assinalada por um desafio enérgico, movimentado e entusiástico de princípio até final. Não demos por mal empregue o nosso tempo e o mesmo de certo dirá o público que assistiu, como nós, ao melhor desafio do Campeonato regional de futebol até hoje. Reservas A superioridade do Portugal foi logo evidente aos primeiros pontapés e se os alvi-negros tivessem explorado os fracos do adversário poderiam ter obtido um resultado histórico sem grande esforço. O Lobito apresentou uma linha de recurso, fraca, que foi manejada sem dificuldade. O keeper não tem habilidade alguma, servindo apenas para fazer número e dos seus homens, só José Adriano, Aragão e Barata, fizeram algo de geito. Do Portugal, gostámos da asa direita onde há ummeúdo que é uma féra; e de Moreira, que foi o mais inteligente e prático dos avançados não perdendo tempo com passes escusadose visando sempre a baliza quando surgia oportunidade. Pedro madeira não soube tirar partido dos seus recursos atléticos e não soube também evitar o embate. Todavia, teve um ponto magnífico, marcando, com um remate explêndido ao canto da baliza. | O Jôgo de Honras Sob a arbitragem de José Pinho os grupos apresentaram a seguinte constituição: PORTUGAL - Seixal, Maia e Álvaro, Branco, Severino, Lobo e Leite, Ribeiro, Ayres, Cruz, Ruca, Joaquim dos Santos e Vitor Hugo. LOBITO - Melo, Aguiar e Russo, Santiago, Ribeiro e Dionízio, Jorge Rocha, Júlio Couceiro, Caires, A. Couceiro e Direitinho. O jôgo atingiu logo grande velocidade e ambos os grupos começaram a bater bem a bola. O Lobito proncipalmente mostrava uma indomável vontade de vencer e o seu jôgo era mais firme, mais rápido e mais perigoso. Os seus jogadores não perdiam tempo com minuciosidadeslançando-se com entusiasmo em busca do resultado. Até que, aos seis minutos, Jorge Rocha, sem delongase numshoot feliz, marcou o primeiro ponto. O entusiasmo recrudesceu. Os lobitenses forçaram o ataque e a partida atingiu uma fase de intenso movimento e vibração. Tudo jogava e até o público, nas bancadas, não continha os nervos. Assistiu-se então a um belo período de campeonato: oPortugal a reagir e o Lobito a procurar consolidar o resultado. E foi Jorge Rocha minutos depois que fabricouo melhor goal da tarde: um perigoso centro seu proporcionou a Caires uma entrada magnífica de cabeça e um ponto certo. |
O público vibrou e o Lobito impôs-se, então com mais entusiasmo, desenvolvendo um jôgo eficiente cujo único fim era a baliza. Lobo apercebeu-se então do perigo que corria a sua equipa e veio para a esquerda marcar Jorge Rocha, o que, diga-se de passagem, deveria ter sido visto logo no início do jôgo. O Portugal replicou; mas as suas avançadas perdiam-se quási sempre pelo exagero de passes sem qualquer utilidade para a equipa, pois permitiam a colocação do adversário. Baldados foram os incessantes conselhos de Lobo para que não abusassem do dribling e modificassem a tática de jôgo. Mas estava escrito que 2-0 a favor do Lobito seria o resultado da primeira parte. O empate e finalmente a vitória O Portugal voltou ao rectângulo disposto a movimentar o marcador e «estoirar» as últimas energias. E dominou. O Lobito parecia acusar o esforço da promeira parte e o Portugaldecidiu-se a tirar partido do facto, sucedendo-se as avançadas contínuamente sem que todavia houvesse um goal a premiar o esforço. Aos 10 minutos, porém, por falta de Russo, Joaquim dos Santos na transformação de um penalty marcou o primeiro goal e 5 minutos depois, Víctor Hugo, aproveitando um deslize da defêsa adversária estabeleceu o empate. | Com 2-2, o desafio animou e de parte a parte os jogadores esforçaram-se na procura da vitória que haveria de sorrir aos «verdes-brancos». Os keepers intervieram várias vezes e Melo teve até uma magnífica defesa a um potente remate, por alto, de Víctor Hugo. OPortugal jogou tudo e Lobo não cessou de impulsionar os seus companheiros incutindo-lhes entusiasmo e ânimo, - ao mesmo tempo que os orientava. Finalmente o desideratum veio a 7 minutos do fim. Amândio Couceiro, na marcação de uma grande penalidade obteve o ponto da vitória para o seu Clube, fixando o resultado em 3-2. O Portugal sentiu o ponto e ainda procurou reagir; mas a defesa verde com um Russo em grande tarde, tudo quebrou, aguentando o score. E assim terminou o desafio que, sem favor; foi o melhor até hoje disputado durante o actual campeonato de futebol. Luta ardorosa, enérgica, sustentada pela energia e pela vontade onde todos se houveram com a máxima correcção e galhardia. A.J.M. |
Na época de 1946 a equipa de Honras do Lobito Sports Clube classificou-se em 2º lugar no Campeonato Distrital de Benguela, atrás do Lusitano Sport Clube, ambos com 30 pontos.
Notas retiradas do Livro de António Gonçalves Rodrigues (1996)
Notas retiradas do Livro de António Gonçalves Rodrigues (1996)
A Selecção do Lobito vence o Sport Lisboa e Benfica no ano de 1951
Extraído do Jornal dos Leitores - Expresso, de 9-Nov-2000,
de Arlindo Leitão: "José Águas: o goleador que veio do Lobito"
A 19 de Agosto de 1950, o Sport Lisboa e Benfica, o «Glorioso», deslocou-se à cidade angolana do Lobito, onde, no Campo do Lusitano Sports Clube, defrontou aSelecção do Lobito. Nesse dia, a selecção local cometeu uma proeza inédita, vencendo o grande Benfica por 3-1. Ao intervalo registava-se um empate a uma bola, tendo Corona marcado para o Benfica e Lourenço pela selecção do Lobito. No interregno, o inglês Ted Smith, técnico do Benfica, perguntava a toda a gente qual era a idade do avançado-centro, um jovem alto e magro que o tinha impressionado favoravelmente em duas ou três intervenções e que lhe parecera bastante novo. No início do segundo tempo, eram decorridos 30 segundos de jogo, ainda o «mister» não se tinha sentado, quando uma ofensiva do Benfica foi interceptada por Zé da Barca, um moçambicano radicado no Lobito, que, de imediato, entregou aAmândio Couceiro, o qual faz um passe de «morte» ao jovem Águas - assim se chamava o tal avançado-centro - que, com um remate «seco», bate Contreiras, colocando a selecção do Lobito a vencer por 2-1. | A multidão não acreditava no que os seus olhos viam, o resultado era desfavorável ao Benfica. A partir daí, o Benfica carregou no acelerador e esperava-se a qualquer o momento o golo do empate; contudo, em mais um ataque rapidíssimo do Benfica, o mesmo Zé da Barca voltou a interceptar a bola, endossando-a a Pavão que, de imediato, a colocou ao alcance de Águas, fazendo este o 3º golo e, assim, «matando» o jogo. Desmoralizado e com um resultado desfavorável de 3-1, o Benfica baixou os braços à espera do apito que colocasse ponto final naquele «calvário». A 9 de Novembro do corrente ano, José Águas completou 70 anos de vida e, para aqueles que nasceram em finais da década de 40 e princípios de 50 é a maior referência futebolística. Na história do «Glorioso» é o segundo melhor marcador depois do moçambicano Eusébio. Marcou 378 golos com a camisola do Benfica. Ganhou por cinco vezes a «Bola de Prata», mas gostaria de frisar a sua brilhante «performance» no campeonato nacional. | Durante 11 anos, entre as épocas 1950/ 51 a 1960/ 61, foi sem sombra de dúvida o homem que mais golos marcou em Portugal, situando-se sempre entre os três melhores marcadores de cada época. Simplesmente fenomenal. Foi 25 vezes internacional por Portugal, marcando 11 golos e capitaneando a selecção nacional em sete ocasiões. Ganhou cinco Campeonatos Nacionais e sete Taças de Portugal. Nas duas finais europeias, com o Barcelona e o Real Madrid, marcou um golo em cada jogo. Parabéns, Sr. Águas, pelos 70 anos de vida! |
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