sábado, novembro 06, 2010

Futebolando com o Colonial

Futebol


Campeonato Distrital de Benguela, Época de 1946

Em 1946, no jornal O LOBITO, nº1126 de 22 de Maio, podia ler-se esta notícia:

NO LOBITO
No melhor desafio do campeonato,
O LOBITO SPORTS CLUBE,
bateu o S.C. Portugal por 3-2.



As surpresas vão surgindo e o campeonato vai despertando um interesse cada vez maior. Pelo que vai decorrendo e pelo que se anuncia, prevê-se uma competição renhida tanto mais que todos os concorrentes se encontram pouco mais ou menos equilibrados.
Vão aparecendo, também as dificuldades, à frente das quais avulta o ingrato problema dos árbitros que, não obstante todas as decisões promulgadas, continua sem solução.
É este o «caso» que atinge maior acuidade, certo de que da sua solução depende a rgularidade do campeonato e de que não se pode estar à mercê de soluções de momento, de «caprichos» e «deserções».
Porfiados têm sido os esforços da A.F.B. para resolver o assunto e é necessário que o público os reconheça, não sendo por vezes tão impiedoso e tão injusto nas suas apreciações.
Há um péssimo hábito de fazer da A.F.B., o «bode expiatório» de todos os actos e atitudes condenáveis.
Basta um ligeiro exame de consciência, mesmo quando os espíritos estão mais exaltados, para se reconhecer a flagrância do êrro e a ilibação de culpas.
Não queremos dizer, com isto, que não estejamos sugeitos a decisões menos acertadas; mas do que não resta a menor dúvida é que os «defeitos» só se «descobrem» quando se «perde» e não quando se ganha ....

Um jôgo enérgico e movimentado
O campo do Lusitano registou uma grande enchente e a tarde foi assinalada por um desafio enérgico, movimentado e entusiástico de princípio até final.
Não demos por mal empregue o nosso tempo e o mesmo de certo dirá o público que assistiu, como nós, ao melhor desafio do Campeonato regional de futebol até hoje.


Reservas
A superioridade do Portugal foi logo evidente aos primeiros pontapés e se os alvi-negros tivessem explorado os fracos do adversário poderiam ter obtido um resultado histórico sem grande esforço.
O Lobito apresentou uma linha de recurso, fraca, que foi manejada sem dificuldade. O keeper não tem habilidade alguma, servindo apenas para fazer número e dos seus homens, só José Adriano, Aragão e Barata, fizeram algo de geito.
Do Portugal, gostámos da asa direita onde há ummeúdo que é uma féra; e de Moreira, que foi o mais inteligente e prático dos avançados não perdendo tempo com passes escusadose visando sempre a baliza quando surgia oportunidade.
Pedro madeira não soube tirar partido dos seus recursos atléticos e não soube também evitar o embate. Todavia, teve um ponto magnífico, marcando, com um remate explêndido ao canto da baliza.
O Jôgo de Honras
Sob a arbitragem de José Pinho os grupos apresentaram a seguinte constituição:
PORTUGAL - Seixal, Maia e Álvaro, Branco, Severino, Lobo e Leite, Ribeiro, Ayres, Cruz, Ruca, Joaquim dos Santos e Vitor Hugo.
LOBITO - Melo, Aguiar e Russo, Santiago, Ribeiro e Dionízio, Jorge Rocha, Júlio Couceiro, Caires, A. Couceiro e Direitinho.
O jôgo atingiu logo grande velocidade e ambos os grupos começaram a bater bem a bola. O Lobito proncipalmente mostrava uma indomável vontade de vencer e o seu jôgo era mais firme, mais rápido e mais perigoso.
Os seus jogadores não perdiam tempo com minuciosidadeslançando-se com entusiasmo em busca do resultado. Até que, aos seis minutos, Jorge Rocha, sem delongase numshoot feliz, marcou o primeiro ponto.
O entusiasmo recrudesceu.
Os lobitenses forçaram o ataque e a partida atingiu uma fase de intenso movimento e vibração. Tudo jogava e até o público, nas bancadas, não continha os nervos.
Assistiu-se então a um belo período de campeonato: oPortugal a reagir e o Lobito a procurar consolidar o resultado. E foi Jorge Rocha minutos depois que fabricouo melhor goal da tarde: um perigoso centro seu proporcionou a Caires uma entrada magnífica de cabeça e um ponto certo.
O público vibrou e o Lobito impôs-se, então com mais entusiasmo, desenvolvendo um jôgo eficiente cujo único fim era a baliza. Lobo apercebeu-se então do perigo que corria a sua equipa e veio para a esquerda marcar Jorge Rocha, o que, diga-se de passagem, deveria ter sido visto logo no início do jôgo.
O Portugal replicou; mas as suas avançadas perdiam-se quási sempre pelo exagero de passes sem qualquer utilidade para a equipa, pois permitiam a colocação do adversário.
Baldados foram os incessantes conselhos de Lobo para que não abusassem do dribling e modificassem a tática de jôgo. Mas estava escrito que 2-0 a favor do Lobito seria o resultado da primeira parte.

O empate e finalmente a vitória
O Portugal voltou ao rectângulo disposto a movimentar o marcador e «estoirar» as últimas energias.
E dominou.
O Lobito parecia acusar o esforço da promeira parte e o Portugaldecidiu-se a tirar partido do facto, sucedendo-se as avançadas contínuamente sem que todavia houvesse um goal a premiar o esforço.
Aos 10 minutos, porém, por falta de Russo, Joaquim dos Santos na transformação de um penalty marcou o primeiro goal e 5 minutos depois, Víctor Hugo, aproveitando um deslize da defêsa adversária estabeleceu o empate.
Com 2-2, o desafio animou e de parte a parte os jogadores esforçaram-se na procura da vitória que haveria de sorrir aos «verdes-brancos». Os keepers intervieram várias vezes e Melo teve até uma magnífica defesa a um potente remate, por alto, de Víctor Hugo. OPortugal jogou tudo e Lobo não cessou de impulsionar os seus companheiros incutindo-lhes entusiasmo e ânimo, - ao mesmo tempo que os orientava.
Finalmente o desideratum veio a 7 minutos do fim. Amândio Couceiro, na marcação de uma grande penalidade obteve o ponto da vitória para o seu Clube, fixando o resultado em 3-2.
O Portugal sentiu o ponto e ainda procurou reagir; mas a defesa verde com um Russo em grande tarde, tudo quebrou, aguentando o score. E assim terminou o desafio que, sem favor; foi o melhor até hoje disputado durante o actual campeonato de futebol. Luta ardorosa, enérgica, sustentada pela energia e pela vontade onde todos se houveram com a máxima correcção e galhardia.

A.J.M.
Na época de 1946 a equipa de Honras do Lobito Sports Clube classificou-se em 2º lugar no Campeonato Distrital de Benguela, atrás do Lusitano Sport Clube, ambos com 30 pontos.


Notas retiradas do Livro de António Gonçalves Rodrigues (1996)
A Selecção do Lobito vence o Sport Lisboa e Benfica no ano de 1951
Extraído do Jornal dos Leitores - Expresso, de 9-Nov-2000,
de Arlindo Leitão: "José Águas: o goleador que veio do Lobito"

A 19 de Agosto de 1950, o Sport Lisboa e Benfica, o «Glorioso», deslocou-se à cidade angolana do Lobito, onde, no Campo do Lusitano Sports Clube, defrontou aSelecção do Lobito. Nesse dia, a selecção local cometeu uma proeza inédita, vencendo o grande Benfica por 3-1.
Ao intervalo registava-se um empate a uma bola, tendo Corona marcado para o Benfica e Lourenço pela selecção do Lobito. No interregno, o inglês Ted Smith, técnico do Benfica, perguntava a toda a gente qual era a idade do avançado-centro, um jovem alto e magro que o tinha impressionado favoravelmente em duas ou três intervenções e que lhe parecera bastante novo.
No início do segundo tempo, eram decorridos 30 segundos de jogo, ainda o «mister» não se tinha sentado, quando uma ofensiva do Benfica foi interceptada por Zé da Barca, um moçambicano radicado no Lobito, que, de imediato, entregou aAmândio Couceiro, o qual faz um passe de «morte» ao jovem Águas - assim se chamava o tal avançado-centro - que, com um remate «seco», bate Contreiras, colocando a selecção do Lobito a vencer por 2-1.
A multidão não acreditava no que os seus olhos viam, o resultado era desfavorável ao Benfica. A partir daí, o Benfica carregou no acelerador e esperava-se a qualquer o momento o golo do empate; contudo, em mais um ataque rapidíssimo do Benfica, o mesmo Zé da Barca voltou a interceptar a bola, endossando-a a Pavão que, de imediato, a colocou ao alcance de Águas, fazendo este o 3º golo e, assim, «matando» o jogo. Desmoralizado e com um resultado desfavorável de 3-1, o Benfica baixou os braços à espera do apito que colocasse ponto final naquele «calvário».
A 9 de Novembro do corrente ano, José Águas completou 70 anos de vida e, para aqueles que nasceram em finais da década de 40 e princípios de 50 é a maior referência futebolística.
Na história do «Glorioso» é o segundo melhor marcador depois do moçambicano Eusébio. Marcou 378 golos com a camisola do Benfica. Ganhou por cinco vezes a «Bola de Prata», mas gostaria de frisar a sua brilhante «performance» no campeonato nacional.
Durante 11 anos, entre as épocas 1950/ 51 a 1960/ 61, foi sem sombra de dúvida o homem que mais golos marcou em Portugal, situando-se sempre entre os três melhores marcadores de cada época. Simplesmente fenomenal.
Foi 25 vezes internacional por Portugal, marcando 11 golos e capitaneando a selecção nacional em sete ocasiões. Ganhou cinco Campeonatos Nacionais e sete Taças de Portugal. Nas duas finais europeias, com o Barcelona e o Real Madrid, marcou um golo em cada jogo.
Parabéns, Sr. Águas, pelos 70 anos de vida!
 

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