sábado, outubro 09, 2010

Dez grandes treinadores negros

Dez grandes treinadores negros


Na esteira do título brasileiro conquistado pelo Flamengo, de Andrade, surgiram muitos comentários sobre o fato dele ser o primeiro treinador negro a ser campeão brasileiro – embora alguns jornalistas considerem Carlinhos como o autor do feito, o que evidencia a dificuldade em se definir quem é negro ou não no Brasil -.

E junto com isso, ressurgiu a velha cantilena de que existem poucos negros comandando times importantes. Uns afirmam que os negros não são contratados em função de um racismo velado ainda existente em nossa sociedade. Outros, que eles têm menos acesso à educação do que os brancos, e, por isso, são esquecidos pelos grandes clubes.

Ao nos afastarmos dessa polêmica, podemos perceber que, apesar de poucos, eles existem. E conquistam títulos quando possuem as condições estruturais necessárias para o sucesso. Para que você, leitor, conheça alguns deles, Trivela fez uma lista com dez nomes que fizeram sucesso em clubes em seleções. Confira:

Frank Rijkaard (Holanda)

As duas primeiras experiências de Frank Rijkaard como treinador indicavam uma carreira no máximo mediana. Afinal de contas, perder uma Eurocopa em casa com a seleção holandesa em 2000, após uma sucessão de pênaltis desperdiçados nas semifinais contra a Itália sugeria, no mínimo, falta de sorte. E ser rebaixado com o Sparta Rotterdam, sua segunda equipe, em 2001/02, reforçava as suspeitas de que tratava-se de mais um grande jogador que não conseguiria ter sucesso fora das quatro linhas.

Mas eis que, em 2003, surge o convite inesperado – e prontamente aceito – do Barcelona. E em cinco temporadas na Catalunha, foram cinco títulos conquistados: dois Campeonatos Espanhóis, duas Supercopas da Espanha, e a Liga dos Campeões 2005/06 – é, até hoje, o único técnico negro a vencer a competição -. Faltou apenas o Mundial Interclubes de 2006, perdido para o Internacional, mas pode-se argumentar, a seu favor, que o Barça não pôde contar com Messi e Eto´o naquela partida.

Em razão do desempenho fantástico de Ronaldinho Gaúcho naquela época, muitos torcedores e jornalistas relativizam a importância de Rijkaard para aquela equipe. Mas o fato é que o holandês percebeu o bom momento do então camisa 10 culé e lhe deu liberdade completa. Além disso, teve a calma necessária para lançar, aos poucos, o então garoto Lionel Messi no time e armar um esquema de jogo ofensivo e equilibrado.

Didi (Brasil)

O inventor da “folha seca” teve sua primeira experiência como técnico antes mesmo de pendurar as chuteiras, quando jogava pelo Sporting Cristal-PER, em 1962, e acumulou as duas funções. Vice-campeão nacional em 1962 e 1963, voltou ao Brasil para encerrar a carreira como jogador, que se estendeu até 1966. No ano seguinte, Didi retornou ao Peru, novamente para comandar os Cerveceros, e dessa vez faturou o título peruano em 1968.

A conquista nacional, aliada à boa campanha na Copa Libertadores daquele ano – o Sporting Cristal foi eliminado apenas na segunda fase de grupos pelo Peñarol – o incensou ao status de melhor técnico do país. Didi aceitou a proposta para treinar a seleção nacional em 1969, ano em que o Peru surpreendeu o continente ao derrotar a Argentina nas Eliminatórias para a Copa do Mundo e classificar o país pela segunda vez para uma Copa do Mundo – a primeira, se considerarmos que em 1930 não houve Eliminatórias -.

No Mundial, os peruanos fizeram bonito e chegaram às quartas de final, sendo eliminados pelo Brasil. E Didi virou ídolo nacional, condição que sustenta até hoje, oito anos após sua morte. Ele também comandou equipes como o River Plate, Fenerbahçe, Cruzeiro, Fluminense e Botafogo, e comenta-se até hoje que, se não fosse negro, teria dirigido a seleção brasileira logo após a Copa do Mundo de 1974.

Francisco Maturana (Colômbia)
Maturana é, indubitavelmente, o técnico mais importante da história do futebol colombiano. Afinal de contas, foi o primeiro a vencer uma Copa Libertadores com uma equipe do país, com o Nacional de Medellín, em 1989, e classificou a seleção nacional para as Copas do Mundo de 1990 e 1994, esta última com uma goleada por 5 a 0 contra a Argentina em Buenos Aires. Mas, acusado pela imprensa de “treinar jogadas apenas pelo meio e desprezar a linha de fundo”, ele foi apontado como um dos responsáveis pelo fracasso da seleção colombiana nos Estados Unidos.

Maturana também teve duas experiências pelo futebol espanhol no comando de Valladolid e Atlético de Madrid, além de ter comandado as seleções do Peru, Equador e Costa Rica. Em 2001, voltou à Colômbia e conduziu a seleção nacional ao título inédito da Copa América. Depois disso, passou pelo Al Hilal, Colón, Gymnasia y Esgrima, e teve como último emprego o cargo de técnico da seleção de Trinidad e Tobago, de onde foi demitido em abril de 2009.

Luís Oliveira Gonçalves (Angola)

O trabalho de Oliveira Gonçalves na seleção de Angola certamente ultrapassou os limites das quatro linhas. Após conquistar o Campeonato Africano Sub-20 em 2001, ele foi efetivado na seleção principal em 2003, um ano após o fim de uma guerra civil que durou 29 anos e provocou a morte de cerca de 500 mil pessoas. Dois anos depois, angolanos refugiados no mundo inteiro festejavam a classificação do país para a Copa do Mundo de 2006.

O país ainda respira as cinzas do conflito, mas aos poucos recupera sua auto-estima através do crescimento econômico e da paz. E o ex-comandante angolano convive com a condição de herói nacional, embora isso não tenha sido suficiente para mantê-lo no cargo após algumas derrotas no final de 2008. Sua façanha, porém, será lembrada para sempre.

Jean Paul Akono (Camarões)


A seleção camaronesa classificou-se para o Mundial de 2010 sob o comando do francês Paul Le Guen, e nas outras cinco oportunidades em que chegou a uma Copa do Mundo, o treinador também era estrangeiro. Mas nos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000, a história foi diferente, e foi dada uma oportunidade para Jean Paul Akono, técnico já com boa reputação no futebol local.

O título olímpico, com direito à memorável vitória sobre o Brasil no Golden Goal, abriu as portas da seleção principal para Akono, que ficou até o fim de 2001 no cargo. Depois de passar pela seleção do Chade, alguns clubes e treinar as equipe militar de Camarões, ele voltou à seleção nacional como assistente técnico de Otto Pfister, função que exerceu até o meio do ano.

Gentil Cardoso (Brasil)

“Só não me chamaram porque eu sou preto”, dizia Gentil Cardoso, até o fim da vida, sobre o fato de não ter tido uma oportunidade real para comandar a seleção brasileira. Pernambucano de Recife, ele foi campeão estadual por Sport, Náutico e Santa Cruz, além de ter vencido o Campeonato Carioca em 1946, pelo Fluminense e 1952, pelo Vasco.

Gentil foi o único técnico negro a dirigir a seleção brasileira, mas apenas por cinco particas. Na ocasião, em 1959, ele foi o comandante de um combinado de clubes pernambucanos que disputou e perdeu o Campeonato Sul-Americano. O treinador também ficou conhecido por frases que se perpetuaram, como “O futebol é uma caixinha de surpresas”, ou “Quem desloca, recebe. Quem pede tem preferência”, e por ter dado a primeira oportunidade a Garrincha no Botafogo.

Jean Tigana (França)

Ex-companheiro de Michel Platini na seleção francesa, Tigana começou a carreira de técnico no Lyon, em 1993, e assumiu o Monaco dois anos depois. Pelos Rouge et Blanc, conquistou a Ligue 1 em 1996/97 com 12 pontos de vantagem sobre o Paris Saint-Germain, segundo colocado, e foi o responsável por lançar Thiery Henry e David Trezeguet no time principal. Ele saiu do clube em 1999, e, depois disso, ajudou o Fulham a subir para a Premier League e conquistou a Copa da Turquia em 2005 com o Besiktas.

Andrade (Brasil)

Depois de algum tempo como auxiliar-técnico do Flamengo, Andrade teve uma chance efetiva em 2005, com o clube brigando para não cair. Não deu certo, e a diretoria rubro-negra teve que recorrer aos serviços de Joel Santana. Em 2009, porém, as coisas foram diferentes. Após a demissão de Cuca, ele assumiu a equipe e logo mudou o esquema, do 3-5-2 para o 4-2-3-1, alteração fundamental para que a equipe carioca ficasse com o título, quebrando um jejum de 17 anos.

Hernán Medford (Costa Rica)

Ídolo como jogador na Costa Rica, Medford começou a carreira de técnico imediatamente após sua aposentadoria em 2003, e conseguiu, em três anos à frente do Deportivo Saprissa, dois campeonatos nacionais e uma Copa dos Campeões da Concacaf. Disputou ainda o Mundial Interclubes de 2005, terminando na terceira posição, e comandou a seleção costarriquenha entre 2006 e 2008.

Stephen Keshi (Nigéria)


O nigeriano Keshi fez parte da comissão técnica das Super Águias nas Olimpíadas de 2004, em Atenas, e logo depois assumiu o comando da seleção de Togo, classificando-a pela primeira vez para uma Copa do Mundo, em 2006. Mas logo após conseguir a façanha, ele foi substituído por Otto Pfister, e os togoleses caíram logo na primeira fase. Keshi comanda atualmente a seleção de Mali.

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