domingo, setembro 26, 2010

História Idolos do passado


  Sebastião Lucas da Fonseca ( Matateu )
A 27 de Julho de 1927, em Lourenço Marques, nascia Sebastião Lucas da Fonseca. O futebol mundial viria a consagrá-lo mais tarde como Matateu, a quem um dia chamaram «a 8ª maravilha do mundo».


Grande área, bola nos pés, e era golo certo ! Em 2000 alcançou a eternidade dos mitos ...


Fantástico no drible curto, possuidor de um arranque notável e senhor de um remate fortíssimo com qualquer dos pés, Matateu era uma força da natureza. Um fulgor e alegria em campo, e fora dele, que fez misturar o seu próprio nome com o do Belenenses de tal forma que conseguiu que, no seu tempo, os jogadores azuis fossem representados a negro. Ainda hoje, «Os Belenenses» têm orgulho disso!


O futebol português muito deve a Moçambique. Naquela ex-colónia de Portugal, agora nação, nasceram alguns dos maiores mitos do relvado. Artistas negros da bola que os portugueses idolatraram e o mundo consagrou. Matateu, Coluna, Vicente e Eusébio são os melhores exemplos do talento moçambicano.


Sebastião Lucas da Fonseca, ou Matateu, nasceu com três quilos. Filho de Matambo Lucas e Margarida Heliodoro, nasceu no Alto de Mahé, popular bairro de Lourenço Marques (hoje Maputo, capital de Moçambique), o mesmo onde haveria de nascer outras estrelas da constelação futebolística nacional. Foi o terceiro filho de cinco irmãos. Mais tarde nasceriam Lusete, e depois Vicente, o caçula que viria a tornar-se o «tal central que secava Pelé».


A família não era abastada, muito pelo contrário. O pai tipógrafo de profissão não ganhava muito mais que o suficiente para o sustento. Matateu passou a infância de forma humilde mas, amor nunca faltou!


Mas Matateu era apenas uma alcunha que o próprio dizia nem a mãe saber a origem. Até ao dia em que a desculpa caiu por terra e afinal havia razão para assim ser tratado: «Tateu em landim significa crosta. Em criança quando me magoava, não tinha paciência para aguardar que a ferida secasse, arrancava a crosta antes de tempo».


Aos 10 anos foi para a Escola de Santana da Munhuana. Entretanto, aprendeu a nadar para fora de pé. Além do talento natural para a bola, também o dom da pesca se revelava. Começou a passear-se pelas ruas de Lourenço Marques e quase trocava a bola pela cana e isco, que o ajudava a participar no orçamento familiar.


O futebol não era paixão platónica e acabou por abandonar a praia de Polana para ir treinar ao campo do 1º de Maio, filial de «Os Belenenses». Vestiu, em seguida, a camisola do João Albasini (clube particular, constituído por africanos) para pouco depois regressar ao primeiro clube, encantado por uma proposta de emprego. Não conseguiu dar ao pai a alegria de o ver jogar ao mais alto nível, falecido tinha ele 16 anos, antes de Matateu alinhar pela selecção de Lourenço Marques. Foi nessa altura que se transferiu para o Manjacaze, pela vantagem de algum dinheiro e, fundamentalmente, um lugar nos escritórios da administração da vila. Fez um jogo e logo João Pedro Belo, o árbitro da partida e ex-internacional do Belenenses, o indicou. Aos azuis, claro! Pouco tempo depois Matateu recebeu um telegrama em Lourenço Marques: «Tratar tudo urgentemente stop Matateu embarque Lisboa primeiro avião stop». Assim foi. Com destino ao relvado do Belém, partiu com a proposta de uma passagem de ida (e de volta, se viesse a desejar), 30 contos de luvas e 1600 escudos de salário. Para trás ficavam sete épocas em modestas equipas laurentinas. Pela frente o desafio de uma vida …


A 4 de Setembro de 1951 chegou a Lisboa. A 16 desse mês estreou-se num jogo de pré-época contra o F. C. Porto. Passado pouco mais de uma semana, e apenas 19 dias após ter pisado (anónimo) pela primeira vez a Europa, já a imprensa o apelidava de «astro». Afinal tinha sido carregado em ombros pelos eufóricos adeptos do Belenenses no final de uma partida, realizada nas Salésias, vencida por 4-3 frente ao Sporting, na primeira jornada do campeonato. Apontou o golo do empate a 2 bolas, deu a marcar a um colega o 3-2, suportou o desânimo do 3-3 para apontar, a cinco minutos do final, o golo da vitória.


Na época seguinte (52/53) jogou pela selecção nacional. A estreia ocorreu a 23 de Novembro de 1952, no Porto, frente à Áustria. No final da época cotou-se como o melhor marcador do campeonato, com 29 golos em 26 jogos, vencendo a Bola de Prata, prémio instituído nessa temporada pelo jornal «A Bola». Duas épocas depois repetiria o feito com 32 golos apontados.


A 28 de Novembro de 1954 defrontou, ao serviço da selecção, a formação das pampas. Nesse mesmo dia nascia a sua filha, fruto do casamento com Matilde Gomes, a quem baptizou de Argentina – nome do adversário que o havia deixado «em branco».


Curiosa e infortunadamente a época de 54/55, em que bisou o troféu de melhor marcador, ficaria marcada na história de «Os Belenenses» e de Matateu, como a mais aziaga página desportiva.



Galeria de Ficheiros:

Matateu na Covilhã

Ao serviço da Selecção Nacional

Jogo frente ao Salgueiros

Belenenses no Brasil : Dimas, Pires e Matateu

Bastos, Matateu e Coluna em Madrid

José Aguas e Matateu na Selecção

Matateu e Vaz no ataque de Portugal

Capa da «Crónica Desportiva»

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