sábado, setembro 11, 2010

Hervé Renard ou a FAF se organiza ou vou-me embora

ImprimirPaulo Caculo - Hoje

Técnico dos Palancas está agastado com incumprimento dos planos
Fotografia: Jornal dos Desportos
O seleccionador dos Palancas, Hervé Renard, deu ontem um sério recado à direcção da Federação Angolana de Futebol (FAF). Agastado com os constantes incumprimentos ao programa acordado com a federação, o treinador francês decidiu convocar os jornalistas para esclarecer as razões que têm resultado no fracasso da selecção.

Com um discurso carregado, Hervé Renard afirmou que, ao cabo de cinco meses à frente do comando técnico dos Palancas, o objectivo principal que o levou a assinar o contrato com a FAF ainda não foi cumprido. “Cinco meses depois, ainda não começamos com o objecto principal que me trouxe para cá. Por isso, decidi encontrar-me com o presidente da federação para lhe esclarecer que, quando fui contratado, a ideia principal era trabalhar a base, a formação, e até agora não começamos”, começou por frisar o seleccionar nacional, lamentando os sinais de falta de organização constatados na federação.

“Não acredito que, da forma como estamos organizados, possamos preparar algum jogo para competir ao mais alto nível. Assumo as responsabilidades na derrota com o Uganda, mas devo dizer que os aspectos de desorganização não têm a ver com falta de dinheiro”.

Compromisso 
Hervé Renard afirmou que compreende não ser fácil, por vezes, para a federação, mas assegurou que “quando assinei o meu contrato, houve esse compromisso, que pudéssemos fazer, de facto, uma selecção efectivamente nacional”, disse ele. “Se não pudermos efectuar esse processo de captação de talentos em todo o país, nunca poderemos ter uma selecção efectiva. Se nós tivermos 95 por cento dos jogadores apenas a nível de Luanda, não teremos então a selecção nacional da forma como entendo e pretendo”.

O seleccionador lamentou o facto de a primeira fase de captação de jovens talentos, em Benguela, ter começado apenas anteontem. “Terá sido uma razão plausível a que o presidente me deu para a não realização do processo de prospecção, ou seja, a inexistência de dinheiro. Mas sempre disse ao presidente (Justino Fernandes) que não vim para Angola atrás de dinheiro, mas para realizar o meu trabalho e que podíamos, naquele momento, cortar o nosso vínculo laboral amigavelmente e não pediria nada pelo fim do contrato”. ^

Dada a notória ausência de qualidade nos Palancas, acrescentou Hervé Renard, se Angola não tivesse realizado o CAN’2010, não estaria entre os participantes, porque não se qualificava. “Não nos qualificávamos, tal como não nos qualificamos para o Campeonato do Mundo, na África do Sul. Creio que esse problema não é só meu, é geral e precisa de acção, mas não é uma acção lenta, e sim rápida e imediata. Assinei um contrato de dois anos e já terão passado seis meses e só me sobram ano e meio”.

“Não estou preocupado 
em deixar o cargo”

O seleccionador nacional de futebol foi ontem peremptório na abordagem ao seu futuro à frente dos Palancas. Hervé Renard desmentiu ter apresentado a carta de demissão à FAF, mas afirmou não ter receio de nada, absolutamente nada, por entender ter chegado a altura exacta para esclarecer o que se passa em torno da selecção. “Não estou preocupado com a nossa qualificação e nem em deixar o cargo. Quero continuar, se as pessoas me quiserem manter, tudo bem.

Mas tinha de reagir o quanto antes a esta situação, porque depois seria muito tarde. Creio que temos capacidade para nos qualificarmos”. O treinador francês disse compreender a reacção do público, na medida em que, depois de cinco meses, os adeptos esperavam uma estreia melhor dos Palancas nas eliminatórias ao CAN de 2012. “Realizamos o primeiro jogo contra o Uganda e acabamos por perder. Também não jogamos bem, mas também devo dizer que as pessoas não sabem o que está por detrás disso. Por isso, é que me predispus a falar”.

Apesar da derrota, Hervé Renard acredita que ainda há muito por se clarificar em termos de qualificação, porque há mais cinco jogos por disputar. “Começamos a nossa qualificação com uma derrota, mas ainda temos cinco jogos. Tentei trocar algumas coisas a nível da equipa principal, mas em função da não realização da captação de alguns talentos que pudessem enriquecer a nossa equipa, não o fizemos e acredito que está a começar a ser tarde”. PC 

“Problema do futebol 
está no défice de talentos”

O principal problema do futebol angolano, segundo o treinador dos Palancas, está no alto défice de jovens talentos a jogar no principal campeonato do país: o Girabola. “Por essa razão é que não temos sangue competitivo nestes jovens talentos para estar na selecção principal”, explica ele, adiantando ser essa a primeira grande situação. “O primeiro aspecto que temos de corrigir é em relação às idades.

Mesmo que a nível de alguns países não respeitem isso, nós temos de ser os primeiros a respeitar, para podermos ter jovens talentos na sua idade real”, acrescentou o seleccionador, alertando para a gritante escassez de infra-estruturas desportivas.“O segundo aspecto é a escassez de infra-estruturas para o treino e o principal problema é a falta de um centro de treino da federação, que possa servir as selecções nacionais. Estou com receio de que a gente corra tão rápido, que nem Titanic, mas depois vamos direito a uma parede. Não pretendo confusão, mas é o que sinto”. PC

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